Como chamar a atenção para a doação de órgãos da maneira mais fofa possível
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Em nossa fanpage já chamamos a atenção para esse projeto, mas considero ele tão interessante que resolvi escrever um pouco a respeito para ajudar – de alguma forma – a dar visibilidade para ele.
Bichinhos de pelúcia são um dos brinquedos mais populares entre crianças do mundo todo. Quantos de nós não possuímos (boas) lembranças de ursinhos ou demais pelúcias que, em nossa infância, proporcionavam uma sensação de conforto e aconchego? Posso, de bate-pronto, recomendar a leitura de dois textos que explicitam essa relação de forma surpreendente e poética aqui e aqui, extraídos do blog ArtenaRede (e que serão alvo de minha atenção em outro post, futuramente).
Agora, imagine se seu bichinho de pelúcia precisasse de um “transplante“? Uma asa, uma tromba, uma orelha ou mesmo uma nadadeira… acredite, mas já existe um lugar onde ele pode ser (muito bem!) atendido.
A Second Life Toys é uma iniciativa criada por Akira Suzuki, da agência Dentsu do Japão, para resgatar os bichinhos que se acidentaram durante as brincadeiras mais enérgicas das crianças e/ou aqueles que já não podem fazer mais parte do cotidiano delas.
O projeto recolhe pelúcias que foram deixadas de lado e que precisam de novas partes do corpo, dando à elas uma segunda chance. Assim, aquele ursinho que está com a orelha rasgada pode receber uma nova – quem sabe de um cachorro? – não importando a cor, estampa ou textura da nova orelha… o que realmente importa é a nova oportunidade – tanto ao brinquedo quanto ao seu dono. Percebeu quanto simbolismo há por trás dessa iniciativa?
Por outro lado, infelizmente, não é assim com muitas crianças. 🙁
Alguns desses bichinhos são “doadores” e outros são “receptores” de um implante.
A ideia é que as partes dos bonecos doadores sejam costuradas nos bonecos beneficiários, dando nova vida aos bichinhos quebrados.
É uma mensagem que precisa ser desesperadamente espalhada.
Feito em parceria com o Green Ribbon Campaign (grupo japonês de transplante de órgãos), o projeto é na verdade uma campanha para aumentar a consciência sobre a doação de órgãos em crianças. O objetivo é chamar a atenção para a baixa taxa de transplantes. No país, a cada ano, apenas 300 pessoas recebem um órgão, quando pelo menos 14.000 precisariam do mesmo tratamento.
Segundo o The Japanese Times, nos Estados Unidos ocorrem entre 7 mil e 8 mil transplantes de órgãos anualmente.
“O que resulta em cerca de 26 transplantes de órgãos por milhão de habitantes”, escreve a publicação. “Compare isso com o Japão, onde a taxa é de apenas 0,9 transplante por milhão, a menor taxa no mundo industrializado.”
O problema remonta a um transplante de coração realizado em 1968 pelo médico Juro Wada. Após um exame, o cirurgião declarou a morte cerebral de um garoto que havia se afogado e depois retirou o coração do menino e o implantou em um adolescente que estava morrendo devido a uma doença cardíaca congênita, segundo o The New York Times.
Logo depois da cirurgia, Wada foi acusado de assassinato por outro médico do mesmo hospital, que alegou que Wada havia retirado o coração do menino enquanto este ainda estava vivo. As acusações foram retiradas, mas o caso se arrastou por seis anos, lançando uma escura sombra sobre os transplantes de órgãos no Japão.
Por isso, a Second Life Toys espera desconstruir esse estigma com seus bonecos fofinhos.
“Usando os bonecos como um chamariz, este projeto amplia a noção do transplante de órgão ao torná-lo uma melhoriaem vez de uma compensação”, disse Ganse. “Portanto, torna o tópico acessível a todos.”
No site ‘Second Life Toys’, qualquer criança pode solicitar uma ‘operação’ em seu bichinho de pelúcia favorito — ou doar partes de brinquedos antigos para transplantes em outros bonecos. Basta se cadastrar e enviar o brinquedo por correspondência (é, ainda não inventaram o teletransporte via internet…). A partir do cadastro, a criança entra em uma fila de transplantes, igualzinha à que é feita para órgãos humanos. Os brinquedos antigos são restaurados com pedaços ou peças de brinquedos doadores, e ganham vida nova — do mesmo jeito que acontece com quem recebe um transplante de coração, fígado, pâncreas, pulmão ou córneas. Desse modo, as pessoas podem oferecer um objeto para ser o doador e/ou fotografar aquele que necessita de reparos e, assim que tiverem uma parte correspondente para o transplante de outro, enviar para um endereço localizado no Japão para que seja feita a ‘operação‘. Por fim, a Second Life Toys envia de volta o brinquedo totalmente recuperado.
A campanha pede também para que o dono do bicho de pelúcia transplantado escreva uma carta de agradecimento ao doador, ajudando a ilustrar os benefícios potenciais de uma doação de órgãos da vida real.
A organização responsável pelo site tem sede no Japão, mas pretende incentivar o debate sobre a importância da doação de órgãos entre crianças de todo o mundo.
“Nossa esperança é que através dessa iniciativa, mais pessoas compreendam a questão do transplante de órgãos e contribuam para que mais vidas sejam salvas”, explicam.
Os bonecos representam vidas humanas salvas através dos transplantes de órgãos. A ideia é que os bichos de pelúcia enfeitados ajudem a aumentar a conscientização e o entendimento no Japão sobre a importância dos transplantes de órgãos e doações — começando pelas crianças.