Até hoje me lembro da tarde em que ela adentrou a sala, minutos antes de nossa reunião de trabalho, trazendo consigo um sorriso contagiante e uma aura que faz tudo em volta parar.
Existem várias formas de encarar os diversos dramas e problemas que surgem em nossa vida, mas admiro muito aqueles que entendem como enfrentar tudo isso de uma forma tolerável, sendo otimista – ou, no mínimo, grato – por aprender com a montanha-russa de acontecimentos que formam nossa vida.
O mais curioso – e igualmente admirável – é quando essa pessoa, apesar dos vários percalços, carrega consigo uma leveza e um apelido amorável, ampliado de carinho através do diminutivo, apesar de toda a sua grandeza.
Assim conheci a atleta paralímpica Roseane Ferreira dos Santos. Ou, simplesmente, Rosinha. E conheci sua história, que é resumida no documentário “Rosinha – a força de uma guerreira”, uma celebração a todas as suas vitórias. No esporte e na vida.
O motivo da reunião era montar uma estratégia de divulgação da atleta em redes sociais visando capturar visibilidade, angariar patrocínios, prover uma rede de apoio de modo a facilitar a preparação da atleta.
Porém, alguns pontos chamaram minha atenção. Rosinha nos apresentou um livro infantil onde ela era a protagonista, revelando uma preocupação genuína em repassar seu exemplo de superação para crianças que pudessem vir a sofrer dos mesmos tipos de provações que ela passou.
Outro ponto que também me cativou foi a companhia de uma boneca, negra, de trancinhas rosas, que Rosinha também citou e levava consigo em suas provas.
Então, por que não utilizarmos esse potencial de forma a gerar vínculos, autoestima, representatividade?
Naquele momento surgia uma bunequinha chamada ´Rosinha Superpoderosa´, personagem que passaria a estampar a campanha ´Vai Rosinha´ conduzida pelo Laboratório de Comunicação Integrada da UERJ, do qual faço parte, e que pode ser vista aqui.
Com o desenvolvimento dessa personagem, procuramos aproximar o público com a história da atleta, e todas as suas inúmeras e positivas qualidades, como um recurso que criasse empatia com os seus seguidores, fãs, apoiadores, auxiliando a compor a sua imagem, com cores e personalidade.
Mais do que uma personagem carismática, Rosinha Superpoderosa buscava ser um resgate de autoestima e superação. Sua boneca era um espelho da atleta: sorridente, negra, menina, com uma perna que valia por duas e uma muleta que era não apenas um apoio, mas um objeto que carregava consigo uma bandeira de cuidado, carinho e confidências. Tal qual a boneca que Rosinha carregava, nossa Rosinha Superpoderosa precisava virar um objeto de afeto, uma boneca, um brinquedo.
O brinquedo tem função fundamental na formação do indivíduo e de sua identidade. E a identificação positiva com o brinquedo permite a construção de uma boa autoestima na criança a partir de uma relação saudável com o brinquedo. Uma criança que se vê representada em seu brinquedo se sente pertencente à sociedade em que vive e se reconhece bonita a partir de suas características étnicas.
Além da importante representatividade negra (se vir representado na sociedade é fundamental para todas as crianças, mas os brinquedos ainda ajudam a gente a aprender a se relacionar com o outro), a boneca estampava uma medalha e um sorriso constante, mostrando que não há limitações quando o sonho é maior do que o seu corpo. A bunequinha Rosinha Superpoderosa ganhava vida por um um ideal maior, que é o de transformar vidas.
Essa inspiração veio dos trabalhos de vários artistas, como o “Paratoys”, do artista mineiro Heberth Sobral, que consiste em representar os esportes e os atletas paralímpicos usando bonecos Playmobil. Veio das black dolls da Maraia’s Bonecas de Pano, de Liliane Oliveira. Veio de Jaciana Melquiades e seu projeto “Era uma vez o Mundo” e de tantas outras abayomis e bonecas negras que vem buscando espaço e visibilidade, numa luta incessante pela revisão dos padrões atuais de beleza impostos por uma sociedade ainda muito racista.
A construção da bunequinha também veio da força de vida que a mulher que lhe servia como modelo trazia consigo. Ao invés de lançar espinhos, Rosinha Superpoderosa exalava alegria, recebia quem quisesse repartir bondade e se permitia ser um símbolo de amor, perseverança e coragem. Esses eram seus superpoderes, que tinham a missão de encher de esperança as crianças que tivessem contato com os objetos de afeto desenvolvidos nessa linha tão especial, contando histórias de carinho e afeto, mas também ensinando sobre diversidade, respeito e aceitação, de forma a inspirar gerações.
Para compor uma bunequinha com tamanha força e responsabilidade, nada melhor que dividir a tarefa e contar com pessoas tão especiais, que emprestam seu talento e estão alinhados com a nossa forma de conduzir projetos. E a Flavia Sbragia Artesanato deu vida a essa bunequinha, dando formas e preenchendo-a com tudo o que delineamos dentro do projeto.
A maior recompensa por esse projeto foi ter recebido o carinho da própria Rosinha, emocionada após receber sua bunequinha personalizada, repleta de significados e pronta para costurar outras histórias e compartilhar novas vitórias.
Vitórias que devem inspirar novas meninas. Poderes que devem inspirará-las a serem resistentes, resilientes, recebendo apoio, percebendo uma igualdade verdadeira e um mundo justo construído por mulheres e homens, de forma a sermos mais plenos e felizes.
Sejamos como essa nossa Rosinha: uma flor que enfrenta os espinhos!
Vamos espalhar mais Rosinhas por aí? Deseja dar visibilidade a histórias engrandecedoras que criam memórias que façam uma criança cuidar e entender a importância de se respeitar, aceitar e se identificar? Entre em contato!
Maravilhoso trabalho, que retrata tão genuinamente a Rosinha das crianças e principalmente uma história para todos nós!
Obrigado, Claudia!
Rosinha é inspiradora e devemos valorizar pessoas assim, com histórias de vida que muito nos ensinam!