Normalmente, os bunequinhos nascem a partir do desejo de adultos, que buscam ampliar seu amor em relação às crianças. Mas… e quando ocorre o contrário?
Pois é. Desta vez foi diferente. O bunequinho nasceu a pedido de uma criança. O Luca, um menino que transborda carinho!
A história não poderia ser mais autêntica: por que não fazer uma bunequinha de sua professora preferida, a Lu? E por que não dar essa bunequinha à professora, num gesto de genuína generosidade que só um coração infantil conseguiria prover?
Luca queria presentear a Lu. E Lu teria esse amor retratado em si. Foi assim que nasceu a bunequinha Lu, ou “Fessora”, aquela que recebia seus alunos não na sala de aula, mas em seu coração. Aquela que fazia com que o sinal de saída virasse um som triste, que despertava saudade, mas saudade que findava logo, pois seus alunos saíam preenchidos de conhecimento e amor, que logo eram compartilhados em família.
A bunequinha Lu carrega um largo sorriso que mostrava a todos que os alunos não precisavam de um professor perfeito. Mas que eles precisam de um professor feliz, que os anima a vir para a escola e a desenvolver o amor pelo aprendizado.
Mais do que isso: ela se coloca de braços abertos ao acolhimento emocional, ao abraçar de novos pensares, à criatividade, à colaboração e adaptabilidade, repensando a escola e o aprendizado que preparam para um futuro que ainda não conhecemos, mas que certamente vai requerer que eles saibam se conhecer para poder agir e gerar impacto na sociedade.
A “Fessora” pode não ser perfeita, mas reconhece suas dificuldades e as enfrenta no dia a dia. Jornadas de trabalho extensas e desumanas, cobranças de chefias, coordenadores de sistemas retrógrados, o equilibrar de várias novidades em meio a tantas restrições sem deixar de atender a sua família, a seus anseios e sonhos. A “Fessora” representa um dos heróis de nossa sociedade. Com super poder construído na generosidade, no doar de conhecimento, atenção, carinho. Mas nem por isso ela usa capa. Sabe por quê? Porque os verdadeiros heróis não usam capas. Usam amor e ensinamento.
E, mais simbólico ainda… sabem quem foi que deu alma a essa bunequinha? a própria mamãe do Luca. A Flavia, através de seu trabalho na Flavia Sbragia Artesanato. Dessa forma, representamos a integração da Escola e Família, unidas em prol dos alunos de forma muito positiva. E provamos o valor de nossas parcerias!
No dia 15 de março comemoramos o dia da Escola. Que essa data e esse projeto represente uma singela tentativa de ser apenas uma voz de inspiração em meio a tantos debates sobre o papel da escola e sobre mudanças que são necessárias para se recriar uma sociedade que, convenhamos, está longe de ser bacana.
“O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram.” Jean Piaget.
O ´mundo´ (ou o sistema / sociedade) que levou à pandemia é profundamente marcado pela desigualdade, pela degradação social, ambiental e pelo autoritarismo de bases colonial, machista e racista. E o modelo de escola disciplinar, com sua estrutura baseada nos anos letivos, salas de aula, conhecimento fragmentado e provas, tem sua parcela de responsabilidade pela manutenção deste estado de coisas.
O pedagogo suíço Adolph Ferrière, em Transformons l´école, já expunha sua crítica ao modelo (em 1920!) “A criança adora a natureza: encerraram-na dentro de casas. A criança gosta de brincar:
obrigam-na a trabalhar. A criança pretende saber se a sua atividade serve para qualquer coisa:
fez-se com que a sua atividade não tivesse nenhum fim. Gosta de mexer-se: condenam-na à
imobilidade. Gosta de palpar objetos: ei-la em contato com idéias. Quer servir-se das mãos: é o
cérebro que lhe põem em jogo. Gosta de falar: impõe-lhe silêncio. Quer esmiuçar as coisas:
constrangem-na a exercícios de memória. Pretende buscar a ciência de motu próprio: é-lhe
servida já feita. Desejaria seguir a sua fantasia: fazem-na vergar sob o jugo do adulto.
Quereria entusiasmar-se: inventaram-se os castigos. Quereria servir livremente: ensinou-selhe a obedecer passivamente.” Segundo o autor, ESSA escola- vejam só – teria sido moldada pelo diabo!
A urgência de transformação que a pandemia trouxe deve orientar os esforços no sentido de reconhecer, valorizar e multiplicar as escolas que procuram existir sobre outros pilares e de refletir coletivamente sobre os muitos aprendizados da pandemia.
Com muitas dificuldade, escolas e famílias aproximaram-se de modos diversos. No caso das crianças pequenas, os responsáveis foram envolvidos na mediação das relações entre professores e crianças. Entre os mais velhos, o intenso compartilhamento do espaço domiciliar aproximou os familiares do universo escolar. Aconteceu ainda o reconhecimento, por parte das equipes escolares, da situação de vida das famílias de seus estudantes, obrigando os professores a desenvolver estratégias diversificadas para manter o contato com seus estudantes. Toda esta experiência deve direcionar a reinvenção de uma escola muito mais próxima das famílias, que as inclua em seu projeto pedagógico, seu currículo e gestão.
Falando em currículo, se ainda não estava claro que uma extensa lista de conteúdos fragmentados não engaja os estudantes em processos significativos de aprendizagem, agora, com a longa suspensão das aulas, ganha aderência a proposta de focar no que realmente importa. Uma nova escola deve se tornar um espaço de produção de conhecimentos voltados para o enfrentamento coletivo das questões que nos levaram à pandemia.
Tivemos que aprender sobre a força, criatividade e solidariedade das comunidades.
Além da potência das comunidades, estamos todos aprendendo sobre a potência dos estudantes. Entenderam mais rapidamente o significado de estar conectado, de ser parte de um todo e utilizam sua maior experiência com as tecnologias e redes sociais para interagir, colaborar, debater e divulgar, em diversos formatos, informações relevantes e suas próprias reflexões. Reside aqui o centro da recriação da escola pós-pandemia: finalmente os estudantes e suas experiências no centro do processo do planejamento escolar.
Helena Singer, em seu artigo “Não voltar, recriar a Escola” fala sobre repensar a escola durante e após a pandemia. Reproduzo uma de suas falas:
“Chegamos, então, ao pilar mais evidentemente erodido do sistema escolar pela pandemia: a organização dos tempos e espaços. Ela expôs com clareza o caráter massificador da estrutura baseada em salas de aula com 30, 40 ou mais estudantes em prédios que reúnem centenas deles. Agora todos chamam isso de aglomeração. Nada menos propício aos processos educativos. Precisamos de uma estrutura que garanta a interação pessoal educador-estudante, o acompanhamento individualizado das aprendizagens e, ao mesmo tempo, a experiência coletiva da construção do bem comum, do diálogo, da convivência, do cuidado com o outro, da diversidade. Mais do que nunca precisamos de oportunidades de exploração corporal e de convívio com a natureza. Se os prédios e a velha estrutura chamada enturmação não servem para isso, utilizemos todos os recursos disponíveis, inclusive os tecnológicos que agora os professores conhecem melhor, para criar a estrutura dos tempos e espaços que torne isso possível.
Por fim, não menos importante, aprendemos muito durante a pandemia sobre a importância do trabalho articulado de atores sociais e institucionais visando a constituição de uma rede de direito. Onde aconteceu a articulação dos agentes da educação, saúde, assistência social, foi possível garantir direitos fundamentais dos estudantes e suas famílias, como a segurança alimentar, a prevenção ao contágio do Covid-19 e o acesso a recursos educacionais. Manter e aprofundar estas articulações onde foram estabelecidas e criá-las onde ainda não existem deve ser prioridade da nova escola.”
E que o conceito de Escola seja recriado para formar melhores pessoas. A “Fessora”usa o poder do amor para ajudar a formar o Luca. E o Luca leva esse amor para a família e para outras pessoas. E que essas pessoas estabeleçam não um ´novo normal´, mas um ´melhor normal´. Escolas não podem ser caixas onde se depositam crianças e se deposita no educador o papel de criação, enquanto os pais sustentam um sistema que está focado no ´eu´ e, não, em ´nós´. Precisamos aproveitar o que é bom e potencializar. Mas existem oportunidades.
As vivências de cada um também são elementos fundamentais para promover o acolhimento emocional e envolver as famílias, incentivando-as a participar da construção de repertório dos seus filhos, o que é fundamental. A aproximação escola e família é um caminho muito promissor para educar e construir uma jornada de (auto)conhecimento muito enriquecedora.
Utilizemos esse momento para juntos construir esta escola. Não a portas fechadas, nos gabinetes como se costuma fazer. Nem só entre as equipes escolares. Mas, desde já envolvendo famílias e estudantes nesta construção. É possível pensar numa educação sem ter medo de amar, educar com amor, com destreza, com leveza, com zelo. Educação é transformação, é sentir de dentro do coração a vontade de compartilhar o que se aprendeu, é repassar o conhecimento.
Parabéns – e gratidão – a cada mestre que carregamos em nossas vivências. Você certamente tem lembranças sobre cada um deles.
Vamos revolucionar a escola e o processo de educação, para que ele seja mais acessível, menos excludente, mais colaborativo, livre e utilizando verdadeiramente os potenciais humanos e tecnológicos? Deseja reconhecer e homenagear os heróis que ajudaram a moldar quem você é? dar visibilidade a vivências e histórias engrandecedoras que criam memórias que façam uma criança cuidar e entender a importância de se respeitar, aceitar e se identificar? Entre em contato!